A menina dos olhos verdes

Sob um guarda chuva escuro e grande,
Nos abrigavas, 
Mais ou menos metaforicamente,
E quando a sua aba se erguia,
Fitavas-me,
Num olhar semi-cerrado,
Desconfiadamente. 

Jovem e incerta de futuros
Indagavas,
Com esses teus lindos olhos verdes
Os mapas das terras que descobrias, 
E os muros que de rompante derrubavas,
Corajosamente.

Ansiava eu somente,
Poder fruir 
Da luz que neles insidia,
Tornando-os verdes,
E contrariando a escuridão,
Intensa, Mas delicadamente. 

As palavras que da tua boca saiam,
Tão eloquentemente,
Pairavam como poemas em flor
Que ostentavas no cabelo aos caracóis,
Orgulhosamente.

Mesmo sem te conhecer,
Percebi, inequivocamente,
Um poder que detinhas
Nesse teu sorriso,
Naquele em que me lavei de magias,
Assim, intensamente.

Esses olhos que vi outrora,
Raiam-se de sangue,
Ardentemente,
Noutro verde semelhante,
Mais garrido e voraz
Mas não menos surpreendente.

Os mesmos que sempre procuro,
Hoje navegam,
Entre prados de sentimentos, 
Numa maré que nos leva àquela manhã,
Em que chove copiosamente.

Vejo-te outra vez jovem,
Fitando, inconsequentemente,
E no meio sempre nos encontramos,
Juntos, perfeitamente.

Não esperando rimas,
Rimámos fortuitamente, 
E ao nosso elemento sempre voltamos,
Por entre risos e palavras,
Que apenas nós entendemos,
Numa alegoria ao descobrimento,
Que exploramos,
Incessantemente. 

Nos termos impostos és sempre
Uma estrela no meu firmamento,
E eu o teu hidrogénio,
Queimando fiel,
Numa labareda verde e vermelha 
Que arde lentamente.

Assim, felizes, nos mantemos
Nesta leveza de pensamentos,
Partilhando alegrias e fados,
Sob a luz grave e clara
E livre de julgamentos,
E de olhos vendados ainda nos vemos,
Num poder forte e musculado
Que enfrenta a escuridão,
Veementemente. 

Enquanto houver luz há cor
E enquanto houver cor,
Florimos 
No verde dos teus olhos
Que se entendem como prados,
Nos jardins imensos
Do meu coração,
Que bate como o núcleo dessa estrela
Que tanto brilha, queima e arde
E em pó eterniza no universo, 
Um dia, certamente. 

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